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Sepultado Vivo (Frank Darabont, 1990)

– Luiz Carlos Freitas

Certos diretores muitas vezes nem chegam a ter noção do alcance de algumas de suas obras. Ou será que Frank Darabont imaginaria que o seu primeiro trabalho na direção, uma trama de assassinato e vingança feita por encomenda para a TV, e que nem mesmo chegou a ser lançado DVD, alcançaria o status de cult algum dia? Bem, isso pode até não ser consenso entre o meio cinéfilo como um todo, mas os mais saudosistas irão concordar que, nos bons tempos em que a TV aberta ainda tinha algo a nos oferecer, as inúmeras reprises nas tardes (Cinema em Casa) e noites de Domingo (a finada ‘Sessão das Dez’) no SBT, fizeram de Sepultado Vivo um pequeno clássico para muitos.

O filme tem um argumento bem simples, com uma mulher ambiciosa que envenena o marido com a ajuda do amante (que é médico) para ficar com a sua fortuna. Porém, o veneno não é tão eficaz quanto se espera e o homem tem a “sorte” de despertar após ser dado como morto. Só que isso acontece com ele já dentro do caixão, depois de ter sido enterrado. Como a vadia de sua esposa quis economizar até no velório, o comprou um caixão de madeira estragada, o que acaba facilitando para que ele consiga escapar (na base da porrada).

O roteiro é básico e ‘redondinho’, e se não se preocupa em explicar muita coisa (por exemplo, por que ele não morreu? Por que o veneno – apresentado como extremamente fatal – falhou?), também não deixa pontas soltas. Boa parte da força vem mesmo do trio que encabeça o elenco e é focado na maior parte da projeção, Tim Matheson e Jennifer Jason Leigh, respectivamente marido e esposa, ainda engatando no início de suas carreiras, e William Atherton no papel do filho da mãe sedutor e sem caráter (pela ducentésima vez em sua carreira). Aliás, o personagem dele é de longe o mais interessante. Suas falas e feições carregadas de cinismo rendem alguns dos melhores momentos.

Mas o grande trunfo, sem dúvidas, era o então estreante Frank Darabont. Com alguma experiência no universo do terror, co-roteirizando A Bolha Assassina e A Hora do Pesadelo III, ambos de Chuck Russel, também admitiu ser um grande fã de Alfred Hitchcock e do universo dos filmes de terror “B” da década de 50 (tanto que seu último trabalho, O Nevoeiro, é uma clara homenagem a esse tipo de filme). Sem muitas firulas, ele consegue conduzir o filme de forma segura, com um clima de suspense que é mantido até os últimos minutos,  construindo alguns bons momentos de tensão, como quando ele “desperta” embaixo da terra, cavando com as mãos para sair antes de morrer soterrado, ou o clímax final, onde há o tão esperado acerto de contas na grande “casa-caixão”.

O filme, certo tempo após lançado, ainda teve seu título inexplicavelmente mudado para o extremamente imbecil Morto Mas Nem Tanto, não chegando a ser lançado em DVD, e restando atualmente no máximo algumas fitas VHS nas mãos de colecionadores. Aliás, provavelmente, Sepultado Vivo não mudou a vida de ninguém (como dito, talvez nem mesmo seus realizadores lembrem muito bem dele). Mas, assim como eu, muitos certamente o guardam na memória com um grande apreço e prova definitiva de que houveram, sim, bons tempos aonde a TV aberta ainda poderia ser considerada um sinônimo de diversão de qualidade.

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3/5

Sepultado Vivo / Morto Mas Nem Tanto (Buried Alive) – EUA, 1990 – Direção: Frank Darabont – Elenco: Tim Matheson, Jennifer Jason Leigh, William Atherton, Hoyt Axton, Jay Gerber

15 comentários em “Sepultado Vivo (Frank Darabont, 1990)

  1. caramba, adorava esse filme, poiseh, quem diria que se tornaria um clássico…
    Muito legal resgatar esse!!! 😀

  2. clássico que mantenho o vhs gravado do Cinema em Casa (com direito a trailer de Cabo do Medo e o concurso de paródias do Moacyr Franco nos intervalos) até hoje. passar pra dvd é coisa de boiola!

    e a segunda metade é um pega pra capar muito foda, que culmina naquele final pra lá de sinistraço.Até hoje eu quero ser cremado! [3]

  3. “Por que o veneno – apresentado como extremamente fatal – falhou?”

    Humm pelo que eu me lembre acho que explica sim. O amante disse para Jennifer Jason Leigh que o marido deveria tomar todo o veneno, mas à noite ela, receosa, jogou o veneno na lixeira e ele ficou pingando, quando ela voltou para pegar já havia derramado uma boa parte. A câmera foca bem isso, então daí o marido não ter morrido.

    Ótimo blog e ótimo filme!

  4. Discordo da crítica do Luis Carlos Freitas quanto não explicar como um veneno tão letal não matou o sujeito.E concordo com o comentário 7 da Carol. Num diálogo entre o médico, (amante) e a mulher, ele diz que o veneno é de um peixe(que eles acabam comendo num jantar preparado pelo médico) mas pra ser letal deve-se consumir a dose total do frasco.A mulher leva o frasco para casa e o esconde num cesto de roupa e o frasco fica vazando a noite toda.Quando a mulher serve ao marido pressupõe que a quantidade de veneno havia diminuído.
    ótimo filme.

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