ou aqui: Fim dos Tempos – por Guilherme Bakunin [4/5]
– por Bernardo Brum
Catapultado para a fama após O Sexto Sentido, o indiano M. Night Shyamalan arrebatou legiões gigantescas tanto de detratores e desdenhadores quanto de admiradores e fanáticos. Já havia algum tempo que não havia um caso de “ame ou odeie” tão forte – dos seus contemporâneos, talvez apenas Quentin Tarantino possa ser classificado como integrante do grupo.
Esse era um probleminha meu: nunca havia conseguido nem amar, nem odiar o diretor. Acho que os dois pólos sempre levaram Shyamalan muito a sério: as críticas sociais, mensagens humanistas e pretensões estético-narrativas propostas em seus filmes ou eram consideradas um oásis nesse deserto de idéias ou fracassos retumbantes. Apreciador de algumas de suas obras (como O Sexto Sentido e A Vila) e detrator de outras (mesmo com mais de cinco revisões, ainda acho Sinais involuntariamente hilário), o lançamento de Fim dos Tempos parecia prenunciar mais uma rodada de discussões sérias (e um tanto sisudas) de duas torcidas muito bem delineadas.
Exceto que, após alguns minutos de desconfiança, eis que surgiu uma agradável surpresa: Fim dos Tempos desbancava com uma facilidade surpreendente o posto de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal como o filme mais divertido do ano de 2008. Ainda que jamais caminhe um passo fora do estilo consagrado pelo diretor tão amado/odiado por aí, Fim dos Tempos é consciente de si mesmo e não tem a vergonha de ser um filme de terror com profunda inspiração no cinema B, além da óbvia referência da obra de Alfred Hitchcock que é ponto de partida para todos os bons filmes cataclísmicos, Os Pássaros. Isso inclui uma grande dose de presença de espírito que já previne a maioria das críticas.
Assim, Shyamalan parte de uma premissa ecochata e logo parte para o que interessa: uma onda de suicídios em massa causada por algum vírus muito cabuloso vindo das plantas que logo parece prenunciar a extinção de toda a vida humana sobre a Terra. E é nessas que prossegue até o vírus repentinamente sumir e deixar todo mundo apenas com um ponto de interrogação.
Ainda que faça concessões para os mais fanáticos pelo seu estilo – como as cenas no porão lá para o final do filme que expressam a incomunicabilidade humana e coisas assim -, não se engane: Fim dos Tempos é pauleira pura. O grande barato do filme, no final das contas, é ver Shyamalan brincando feito uma criança retardada ou, vai saber, um psicótico sem os remédios: corpos caindo enquanto aparvalhados encaram, diálogos casuais que terminam em gargantas cortadas, além de pequenos arcos dramáticos de puro suspense que, se de início parecem prenunciar salvação pela nossa inteligência, acabam indo pro buraco quando um pequeno rasgo em um carro deixa entrar aquele maldito ar impregnado. O ser humano é impotente e a natureza implacável. Simples e terrível assim.
Tal qual um George Romero em dias inspirados, o indiano desenvolve muitos poucos personagens; a maioria que aparece logo morre após alguns minutos de aparecer em tela e os que restam não vão nos dizer muito a respeito, não vão compôr muitos trejeitos de métodos de atuação, nem nada. Vão ficar correndo de um lado para outro, desesperados em grupos cada vez menores… E mais cedo ou mais tarde terão um destino inevitável. Pura síntese do cinema B: ainda que tenhamos o popular e elogiado Mark e Wahlberg e a musa cult Zooey Deschanel e participação do quase onipresente John Leguizamo a coisa toda é tocada como se o orçamento fosse uma mixaria e os atores fossem zé-ruelas encontrados na lanchonete. A história que poderia ser pra lá de dramática concentra seus esforços, absolutamente na tensão, nas mortes mirabolantes e no medo de ser a próxima vítima. Sensação que o cinema mais polido e regido com ar professoral dificilmente consegue garantir.
Em suma, relaxa a bunda na cadeira e aproveita o fim do mundo. Quer algo mais sincero que isso?
4/5
Ficha técnica: Fim dos Tempos (The Happening) – EUA, 2008. Elenco: Zooey Deschanel, John Leguizamo, Mark Wahlberg, Alison Folland, Brian O’Halloran, Spencer Breslin, Alan Ruck, Betty Buckley, Robert Bailey Jr., Ashlyn Sanchez, M. Night Shyamalan, Jeremy Strong
5 de abril de 2010 at 0:32
Melhor comédia [involuntária] do seu ano! :B
*** sim, eu estou em um desses pólos, hahahahaha.
5 de abril de 2010 at 0:45
comédia involuntária é o ber falando de m. night shyamalan!, falei
5 de abril de 2010 at 2:26
esqueci que só o troy podia ter opinião, foi mal
5 de abril de 2010 at 1:01
Metalinguagem pura esses dois últimos comentários, hahahahaha.
5 de abril de 2010 at 2:57
E só pra constar: o Mark Whalberg É um zé-ruela encontrado em lanchonete.
Malzaê!
5 de abril de 2010 at 3:03
LC não viu Boogie Nights
5 de abril de 2010 at 3:26
Vi sim. E, numa escala de importância dentro do filme:
PTA > DEUS > Magnum > Juliane Moore > Mina gostosinha de patins > O preto cujo nome eu esqueci > [outros três figuras do elenco] > o bilau postiço no final > Mark Paredeberg
5 de abril de 2010 at 8:59
é, você não viu Boogie Nights
5 de abril de 2010 at 6:31
hahaha, po, pelo menos fala que ele é um zé-ruela encontrado num programa de tv infantil. acho.
ó, claro que você pode ter opinião, ber. deve, aliás. somente o fato de você ter opinião é que possibilita o fato de que eu to discordando (e zuando) dela. não sei se a gente deveria continuar a discussão do msn aqui, mas enfim, você nota por planos, elipses e até mesmo pelos assuntos que o Shyamalan reserva para o clímax, que ele não queria só fazer um filme b divertidão. ele simplesmente dá um stop na narrativa de terror para tratar do casamento dos dois. acho que isso dá pelo menos uma dica de quais são as intenções do cara ao fazer o flme. isso, é claro, aliado a mais um título ambíguo (como Sinais e A Vila, dois dos meus preferidos do cara).
5 de abril de 2010 at 11:47
“não sei se a gente deveria continuar a discussão do msn aqui”
Isso me emputece. De que adianta escrever se ninguém vai discutir? Que o trem role por aqui que é pra estimular o povo de fora a participar, oras.
5 de abril de 2010 at 12:51
pra mim uma cena só é muito pouco para tornar a incomunicabilidade de pessoas o tema principal do filme. mais de 90% do filme é dedicado à matança.
pra falar a verdade, tem uma estrutura muito semelhante aos filmes de zumbis de Romero, principalmente A Noite… e O Despertar dos Mortos Vivos. o foco é muito maior no terror, na correria, no desespero e nos picos de emoção e muito pouco nos diálogos, críticas e pausas para organizar os pensamentos.
5 de abril de 2010 at 12:54
o cara fala com as plantas
5 de abril de 2010 at 23:34
eu só dei o exemplo de uma cena, mas o filme tá recheado delas. e oras, sempre foi o ideal do Shyamalan deixar o tema principal meio que mascarado pela trama sobrenatural, vide O sexto sentido.
esse negócio de estrutura semelhante começa a mexer com ideias mais abstratas do que eu posso assimilar, igual o seu comentário teimoso no tópico de O pássaro sangrento, então eu prefiro nem ir por aí.
6 de abril de 2010 at 1:04
foi apenas a maneira que eu percebi o filme ora. não há nada de teimosia e abstração na subjetividade.
8 de abril de 2010 at 2:24
o mato bota todo mundo pra correr…maus pros cavalos que pastavam….
15 de janeiro de 2013 at 12:30
cala a boka
15 de abril de 2010 at 2:04
Cara, essa cena da foto é genial. Como quase toda a filmografia do Shya.
Valeu!