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Elogio ao Amor (Jean-Luc Godard, 2001)

– por Allan Kardec Pereira

Percebe-se nos 50 anos de carreira como cineasta de Godard, ao menos, três fases distintas. A primeira, foi, justamente, a Nouvelle Vague, que idealizou com os também críticos da Cahiers, Truffaut, Rohmer, Resnais e Chabrol. Uma segunda fase seria aquela do Grupo Dziga Vertov, com teor mais político-panfletário. Um terceiro momento, digamos assim – há quem subdivida em 4 momentos, com diferenças entre a década de 80 e 90 – o cineasta ampliou cada vez mais seus filmes a um teor ensaísta.

Em Éloge de L’Amour vemos um turbilhão de idéias, como parece ser o cinema recente de Godard. Pensemos, então. Desde seus primeiros filmes, percebemos que o cineasta vê o cinema, também, como um modo de expor e refletir sobre idéias, com o Godard provocador sempre proferindo teses, com afinco. Incrível ver como o franco-suiço ainda mantém uma coerência intelectual há tanto tempo. Suas idéias sobre cinema, amor, memória, barbárie, mantém uma vivacidade das mais interessantes, justamente pela consciência que tem Godard ao falar.

Elogio do Amor tem uma estrutura narrativa interessante, faz-me pensar uma (tendência do cinema contemporâneo?) marca de Apichapong Weerasethakul, onde o filme é dividido em dois fragmentos. A primeira parte de Eloge de L’Amour fala de Edgard, um diretor que busca em vão em um Paris soturna, busca atores para um projeto. Mas tem dúvidas do que efetivamente será esse projeto, se um filme, uma ópera. O presente, fotografado magistralmente em P&B constrói-se em torno desta procura e do seu fracasso. É tudo muito poético. Muito filosófico. Há um sem número de indagações fantásticas de Godard, que desde sempre, falou através de seus personagens.

Em um segundo momento, há uma volta ao passado. Dessa vez a fotografia fora realizada em cores digitais dá um tom semelhante à obras de Van Gogh. O processo narrativo fica cada vez menos presente, o diretor explora ao máximo o tom ensaistico do filme. Mas, é esse passado que dará sentido ao presente. Assim, como diz Godard, é a História – essa sua grande reflexão – que justifica o presente.

Nesse ponto, Godard não foge à crítica ferrenha que faz dos EUA. Das mais interessantes é aquela que o cineasta vê aqueles como um povo sem História, indo outros lugares pegar um história para estudá-las, ou filmá-las. Citando diretamente Spilberg, ele lembra que “a senhora Schindler não ganhou um tostão e vive pobre em Buenos Aires”.

É um filme turbilhão-de-idéias, filme-montagem, filme-tese. É um delírio visual dos mais interessantes, ao mesmo tempo que não parece um filme. A narrativa se esvai em determinado momento. Ficam-se as idéias. Godard é isso. Concordando-se, ou não, sua voz, seu cinema, suas idéias ficam.

5/5

Ficha Técnica: Elogio ao Amor (Eloge de L’Amour) – França/Suiça, 2001. Dir: Jean-Luc Godard. Elenco: Bruno Putzlu, Jean Davy, Françoise Verny, Audrey Klebaner.

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