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Síndromes e um Século (Apichatpong Weerasethakul, 2006)

– por Guilherme Bakunin

Um cinema fantástico, extremamente lento e contemplativo. Weerasethakul exercita um certo fascínio pela filosofia oriental, descreve os caminhos de seu filme de forma a conquistar o espectador, chamá-lo ao espetáculo de cores, sons e movimento. Não é um cinema realista, mas surreal. O cineasta filma a natureza com um rigor invejável e convence a todos que aquele é o melhor lugar para se estar, sempre. Mesmo na cidade, os personagens buscam o campo. O verde explode na tela e alcança os olhos de quem admira, só para que depois, a mesma fonte de luz – o filme -, nos traga a memória que todos os planos são executados a partir da maquinaria, com as prisões dos trilhos de traveling e a firmesa das mãos do aço acoplado às câmeras. Weerasethakul sabe que o cinema é engenharia e por isso mesmo busca um equilíbrio formal, onde a máquina e o homem possam se amar mutualmente, entre corredores brancos ou verdes.

Mas o que realmente encanta num primeiro olhar sobre o filme é a forma como as sensações são condensadas dentro da história. Sem sentido lógico, mas dotadas de uma certa simpatia, as cenas incitam alguns dos sentidos primários do corpo humano, ao mesmo tempo que contém uma atmosfera de liberdade e paz que saem das imagens para penetrar na pele do espectador. Não estou falando de masturbação artística e nem estou dizendo que todos vão sentir isso ao ver Síndromes e um Século. Não estou dizendo também que esta é a melhor maneira de compreendê-lo. Mas foi a maneira que o filme mexeu comigo. Um transe de paz, uma experiência de catarse emocional onde, na minha experiência com cinema, ainda não encontro uma igual. Algo belo, fino e verdadeiro. Quando a ruptura ocorre no filme e todo o mundo como o conhecemos naqueles quarenta minutos desaba, o enigma parece atormentar a mente de quem assiste. Eu não preciso, mas se eu tivesse que tirar alguma conclusão em cima da quebra no filme, diria apenas que existe um elemento em comum entre as duas realidades. O homem e toda a sua criação. Cada uma das realidades resguarda um pouco do valor da primeira revelação divina, a natureza, uma em maior e outra em menor grau. Mas nas duas, os homens preenchem a vazio do universo, trazendo os risos, a dor, as lágrimas, os corações. O monge pede ao cantor que o siga e como se deixassem de ser personagens, levam toda a narrativa do filme para um outro plano, quase como que escritores de uma nova história. O que o monge quer mostrar ao cantor é que os homens continuam lá com suas vidas e com suas experiências, com seus sentimentos e com os seus amores, entregando-lhes(-nos) todo o drama. E não é por preguiça ou por falta de assunto que o texto termina aqui. Mas é que a melhor análise de Síndromes e um Século é feita por alguém que fecha os olhos e escuta a beleza do silêncio, internamente.

5/5

Ficha técnica: Síndromes e um Século (Sang Sattawat) – Tailândia, 2006. Dir.: Apichatpong Weerasethakul. Elenco: Arkanae Cherkam, Jaruchai Iamaram, Sakda Kawebuadee, Sin Kawepakpin, Nu Nimsomboon, Jenjira Pongpas, Sephon Pukanok, Nantarat Sawaddikul, Wanna Wattanajinda.

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