Comentários

(500) Dias com Ela (Marc Webb, 2009)

– por Guilherme Bakunin

Marc Webb dirigiu ótimos vídeo clipes, e talvez 500 Dias com Ela seja mais um deles. Mas definitivamente é o melhor. Tom é jovem, frustrado como arquiteto e trabalha numa empresa de cartões. Acredita no amor e tem um fino gosto para todas as coisas. Ele ama The Smiths. Summer é jovem e seguidora do carpe diem. Ela não acredita no amor, porque as relações humanas são mais frágeis do que ela poderia aceitar. Ela também ama The Smiths. Marc Webb procura, no começo, nos fazer acreditar que esses dois se encontraram por obra do destino.

Sendo uma comédia romântica, o filme se destaca e muito. A premissa nos remete à Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, já que a história dos dois é contada através de flashes. O interessante nesse filme, sendo comercial da forma como é, é que o tempo é fator absolutamente dispensável. Não há presente em 500 Dias com Ela, apenas fragmentos de memórias de um romance completamente idealizado. A montagem rápida, bem musical, ajuda a empregar um ritmo extremamente leve a esse romance, e a qualidade fenomenal das atuações principais, confere muita simpatia aos personagens. Os aspectos do filme estão em harmonia, todos direcionados ao objetivo da obra: fazer a conexão entre filme e espectador através com a identificação com os personagens.

Como se a completa falta de linearidade não fosse artifício inventivo o bastante, Webb continua brincando com o poder proporcionado pela fantasia do cinema, como na melhor sequência do filme, onde a tela se divide e, do lado esquerdo, vemos a expectativa do Tom para a festa e, do lado direito, a forma como ela realmente aconteceu. Esses pequenos jogos de edição nos remetem novamente ao filme do Woody Allen. Inspirar-se num dos maiores filmes pra criar um romance-indie-moderninho é algo que merece muita atenção.

Não que o filme seja perfeito. A forma como o filme é construído ao final para que a mensagem possa ser entregue (o amor existe e é importante, porra!) é dispensável, irreal, artificial, mas é feita com uma certa dignidade, reconheçamos.

Como resultado final, um belíssimo filme romântico, um dos mais legais que foram lançados esse ano nos nossos cinemas, uma promessa de um grande diretor, já que o trabalho do Marc Webb é formidável, e a certeza mais que certa de que a Zooey Deschanel é a mulher mais linda a ter colocado os pés sobre nosso planeta.

4/5

– ou aqui: (500) Dias com Ela (Marc Webb, 2009) – Lucas Duarte [2/5]

Ficha Técnica: (500) Dias com Ela ((500) Days of Summer) – 2009, EUA. Dir.: Marc Webb. Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Zooey Deschanel, Geoffrey Arend, Chloe Moretz, Matthew Gray Gubler, Clark Gregg, Patricia Belcher, Rachel Boston, Minka Kelly.

19 comentários em “(500) Dias com Ela (Marc Webb, 2009)

  1. “(…) e a certeza mais que certa de que a Zooey Deschanel é a mulher mais linda a ter colocado os pés sobre nosso planeta.”

    Na boa, não vou sustentar essa blasfêmia.

    ============
    Todo mundo falando bem… Verei muito em breve. ^^

  2. O Guilherme chegou na minha frente. sucks.
    brinks. hahaha
    Mas por que vc achou que o final é feito de forma dispensável? Penso que ele só poderia ter sido feito daquele jeito, pra dar continuidade ao espírito do filme.

    1. Pois é, esse lance do “espírito do filme” é algo que me desagrada, como se o roteiro tivesse de qualquer jeito que passar uma mensagem. Sei lá, se é pra falar de amor, que deixasse em aberto. Dispenso muito o encontro do casal lá pelo fim do filme no “melhor lugar da cidade”.

      1. Esse lance do “melhor lugar da cidade” foi mesmo meio forçado (nem sei se é essa a palavra que quero usar).
        Contudo, fato: “I am Autumn” é uma das melhores frases que ouvi no ano.

  3. Me lembro de uma polêmica que rolou há alguns anos no Festival de Gramado por conta do Prêmio da Crítica. No resultado da votação, ganhou o mesmo filme que venceu o prêmio do júri popular, deixando de lado produções mais desafiadoras e ousadas esteticamente. Alguns críticos (eu entre eles) protestaram contra a escolha dos colegas que privilegiaram o entretenimento fácil em troca de uma proposta artística mais ousada, o que, em tese, deveria ser o aspecto mais valorizado pela crítica em um festival de cinema.

    Cada vez que assisto a um filme como “(500) Dias Com Ela” e depois abro o jornal e me deparo com o bonequinho aplaudindo o filme de pé, essa história de Gramado me vem à cabeça. Que critério um crítico deve utilizar para avaliar um filme? Unicamente o potencial de diversão para o público? Se fosse assim, não seria melhor publicar “críticas” escritas pelos espectadores/leitores do jornal?

    Pois não há absolutamente nada em “(500) Dias Com Ela” que um crítico possa referendar. Nenhuma idéia nova, nenhuma boa idéia. Fui com toda a boa vontade, mas não consegui dar uma risada sequer. O roteiro é absolutamente banal, pretendendo uma suposta modernidade com citações a cultura pop, mas não passa de mera variação da fórmula desgastada das comediazinhas românticas bobocas de Hollywood. Para quem está atrás de mais do mesmo para consumo imediato, mero acompanhamento para pipocas, refrigerantes e compras no shopping, o filme talvez até cumpra seu papel (porque é insosso mas não chega a agredir a inteligência). O que me assusta é a crítica assumir esse olhar descompromissado, aplaudindo de pé (cotação que deveria ser reservada às obras-primas) tamanha bobajada.

    Janot, o cara la do telecine cult.

    Confio mais na opinião dele do que a do Guilherme e CIA, pelo menos nesse caso.

  4. Todo filme tem que ter uma ideia nova pra funcionar, fato? A respeito das ‘boas ideias’, eu não vou comentar. Se o Janot não viu nenhuma no filme, ele simplesmente não o assistiu. Ver as pessoas dizendo que citar cultura pop é pretensa modernidade me faz ver como as pessoas até hoje não ‘entenderam’ o Quentin Tarantino de Cães de aluguel. Enfim, gosto do Janot, em muitos casos. Em outros – e esse lance da elite artística é um desses – não. Pela forma como ele falou, parece que o público não consegue assimilar com um pensamento crítico, ou que a diversão não é um fator FUNDAMENTAL em um filme (o cinema começou e sempre esteve, desde então, assim), etc.

    E Kevin, chegamos num momento complicado do seu post, cara. Nunca quis tentar te convencer de nada, nem com Argentos, nem com Godards, nem com 500 dias com ela. Até porque você é conhecido pela inflexibilidade que eu sei (vide a nossa conversa de ontem, sobre as novelas e tal)

  5. Só postei pra implicar com vcs mesmo, ja que a imagem que o filme me pssa nao me agrada. Ae fazia tempo q eu não dava de pentelho, foi! hahahahah.

    Não sei se é inflexibilidade, mas eu sou teimoso,sempre e vale ra tudo.

    O pior é que eu tento convencer os outros, “vender meu peixe” hahahah. Isso é parte da teimosia e o bom é que as vezes eu consigo.

  6. e eu vi o filme hoje e adorei. achei super leve mas sem ser aquela coisa boba, sabe, e super divertidinho mas sem ser aquela coisa dispensável, e o bacana é que ele é cultzinho, tem todo aquele ar alternativo, mas não é um desses (ótimos) filmes cult que duram duas horas que parecem dez horas, e os fãs dele são normais, não são desses que citam Sartré em uma conversa de elevador. Um dos raros casos em que público, crítica e a minha opinião pessoal se juntam para aplaudir um filme que realmente cumpre o que promete (no caso desse, divertir descompromissadamente sem se tornar uma comediazinha romântica passável de Sessão da Tarde que você vê de canto de olho enquanto faz tarefa de Biologia).

  7. Achei MUITO bom. Sério mesmo.

    Cheguei a ler que o filme tinha um “anseio desesperado de fugir dos clichês”, não acho. Soou sincero, ao menos pra mim, “histórias de amor muito habitualmente não dão certo”, ponto.

    O filme é um exercício de estilo louvável em meio ao marasmo das comédias românticas atuais. A trilha indie combina perfeitamente com o estilo do filme, com a construção da personalidade das personagens, com a direçãod e arte (etc).

    A narração em off eu achei um “erro” crasso, chata e soa desnecessária, sem por quê.

    A montagem empolga e agrada, a história que é contada em flashs nãof ica confusa nem cansativa, baita mérito. A sequência “expectativa e realidade” é memorável.

    É jovem, um tanto quanto ousado, muito inventivo, muito gostoso.

    Não vai mudar hollywood mas não reclamaria se de lá saísse uma meia dúzia por ano com a qualidade disso daqui.

  8. ah, com certeza é um folego novo pra hollywood, muito melhor do que as comédias usuais. pelo visto fez um sucesso considerável, tomara que invistam mais em projetos que tenham pelo menos o pouco da sinceridade desse, ao invés de emularem esse estilo indie de ser.

    e viva regina spektor

Deixar mensagem para Luiz Carlos Cancelar resposta