– por Bernardo Brum
Digressão. Anacronismo. Deliquência. Peitos, decotes e bundas. Pancadaria. “O melhor filme já feito”, na opinião do iconoclasta malucão John Waters. Mais de 40 anos depois, o fato do filme gênese de toda a sexploitation, Faster, Pussycat! Kill! Kill! continuar com tanto frescor em matéria de violência e erotismo, mesmo tendo tanto a ver com o contexto de subversão rock and roll dos anos sessenta, só nos mostra algo constrangedor: a ousadia de Russ Meyer faz uma bruta falta.
Pois quando, após de dar boas-vindas ao espectador à violência, coloca-se três gostosonas, alguns carros e um deserto, definitivamente abre-se um novo paradigma. Não há explicações maiores sobre a história, suas motivações, suas conseqüências, não se constrói ou desconstrói nada e não são feitas maiores elocubrações. No universo do diretor, qualquer coisa dessas acima é pura gordura. Pior: é frescura. Pode parecer mesmo estranho e desconfortável ele pegar todos os elementos tradicionais (um assassinato, um sequestro, vilões pervertidos, uma família exótica) e virar tudo de pernas para o ar com (muito) sexo implícito, cenas caprichadas de violência, diálogos estilosos e um mau mocismo reinante a cada fotograma da película – mas oras, não espere normalidade de um filme de Russ Meyer.
O que tanto fascinou Tarantino, a ponto de fazer que praticamente todos os seus personagens de todos seus filmes falem de maneira semelhante (você sabe, arrogante, displicente, boca-suja), provavelmente é que em 1965, o filme surtiu no cinema americano um efeito semelhante ao do primeiro disco do Velvet Underground na música do mesmo país: numa época em que, no topo das paradas, A Primeira Noite de um Homem e os ingleses do Rolling Stones eram considerados ousados e eram perseguidos por retratarem/cantarem que queriam dar umazinha com a mina, a situação tanto com Lou Reed quanto Russ Meyer no underground de suas especialidades foram parecidas: a estética do choque, da apelação, e sim, da exploração por puro prazer estétco, quanta projeção de força uma mesma imagem pode ter etc. O que tantos chamam de mau gosto – e que talvez hoje em dia chamem de cafonice ou breguice, também – inevitavelmente – é a pura honestidade de Russ consigo mesmo: um velho tarado por histórias baratas e fanático por mulheres gostosas, sem vergonha alguma de assumir – e, melhor ainda, filmar isso.
E claro, posso começar com aquele papo clichê que foi essa honestidade toda que o fez ser tão contracultural, cuspir na cara dos cabelinhos cortados curtos, das mulheres donas de casa, do sexo só depois do casamento, da falta de substâncias ilegais do organismo, de vícios diferentes dos cotidianos, da falta de autoconsciência e, claro, da falta de senso de humor, mas não é necessário. O que é necessário, pois sim, é você também tirar uma casquinha de Faster, Pussycat! Kill! Kill!
4/5
Ficha técnica: Faster, Pussycat! Kill! Kill! – EUA, 1965. Dir. Russ Meyer. Elenco: Tura Satana, Haji, Lori Williams, Susan Bernard
2 de novembro de 2009 at 19:47
puta merda… não tem como não ficar com vontade de assistir esse filme; ótima crítica!
2 de novembro de 2009 at 20:25
Faster, Pussycat! Kill! Kill! é quase uma filosofia de vida! O filme soube aproveitar da melhor forma o que na época era novo: violência, mulheres, carros e deserto. E já me chegou um boato de que o Tarantino quer refilmar. Verdade?
3 de novembro de 2009 at 11:57
Porra..acho q Russ Meyer deve ser meu diretor preferido visualmente…o que ele faz aqui e em up! na montagem são coisas tão geniais que só vendo pra crer. E tu disse certo, honestidade, os outros filmes do cara conseguem ser ainda mais honestos, pis neles ele mostra peitões msm e piroconas com grandes cenas de sexo subversivas..foda de mais!
5 de agosto de 2010 at 12:49
O filme é ótimo, mas… forçou a barra com esse lance do Velvet Underground, hein mano.
28 de fevereiro de 2011 at 8:56
Esses dias assisti o Super Vixens do Russ Meyer. Consegue ser ainda mais divertido do que este aqui. Tem mais violência e mulheres mais gostosas e é uma comédia!