– por Guilherme Bakunin
Este é um trabalho recente do cineasta francês Alain Resnais, que visto em contraste com o seu primeiro e mais elogiado trabalho, Hiroshima Meu Amor, parece incrivelmente simples e despretensioso. Leigo engano, pois, Medos Privados em Lugares Públicos pode até não ter a montagem complexa e absurda dos primeiros trabalhos de Resnais, mas desafia o espectador a linearizar algo que é muito mais abstrato do que cenas de um filme: pessoas.
O filme passeia por momentos cotidianos na vida de seis parisienses que são conectados através da Teoria dos seis graus de separação, onde cogita-se que todas as pessoas do mundo estão conectadas por no máximo seis outras. É inverno na França e as pessoas parecem estar cada vez mais solitárias em uma época tida tradicionalmente como romântica e aconchegante, em pleno a cidade do amor. Esse é um efeito que pode ser sutilmente constatado ao final do filme. A sensação que se pode ter é de que a estória daquelas personagens é inerte – eles saem de um lugar inicialmente para voltar a ele no final – mas o espectador mais atento vai perceber que os frágeis laços que os unem se enfraquecem ainda mais com o decorrer da história. Nicole e Dan inicialmente são noivos em crise e terminam rompendo o relacionamento; a relação superficial e estritamente profissional de Thierry e Charlotte fica extremamente confusa e constrangedora; Gaelle inicialmente tem a ambição de apesar de seu self-hatred, encontrar alguém e ao final acaba saindo machucada de um falso relacionamento amoroso; e finalmente Lionel, garçom e ouvinte no inicio, perde o pai.
A dura peça de Resnais trata em primeira análise da solidão, mas se envereda por outros pequenos assuntos ao longo da projeção, que apesar de diferentes, são inerentes à solidão pessoal. Essa solidão assume um aspecto personificado em Medos Privados em Lugares Públicos, como se brotasse, de tão intensa, das vidas das personagens para adquirir forma própria. É a neve e é o frio, que as afasta ou que as atraí para afastá-las ainda mais no final. Não é por menos que ao invés de uma transição em fade tradicional, Resnais intercorte-a com uma visão de neve em constante queda: é o ambiente tomando forma significativa no filme, é expressionismo puro, belo e poético. O cineasta, através desse efeito, veredicta o destino de suas criações, que desde a primeira visão de uma Paris completamente desolada e tomada pela neve, estão condenados a estarem e continuarem (ainda mais) sozinhos.
Alains Resnais, que trabalha com cinema há mais 60 anos, nos gratifica com uma de suas mais belas direções em longa-metragens. São planos esteticamente simples, mas de bela substância, com constantes e precisos movimentos, que dão ritmo certo ao filme e agradam definitivamente a quem se aventura a admirar as infinitas emoções contidas em uma imagem cinematograficamente fotografada. É fantástico notar que um diretor, mesmo após décadas e décadas de trabalho não tenha perdido o toque e ainda tenha se dado ao luxo de se reinventar de forma tão evidente, como Resnais o fez. O cineasta demonstra talento e liderança ao assumir à frente de um projeto que une tão bem aspectos não apenas do cinema como arte, mas da literatura, da música e do cotidiano.
Medos Privados em Lugares Públicos é um tratado sobre uma condição recorrente e por muitas vezes permanente da personalidade humana e age de forma popular e direta sob a mente e os olhos de quem assiste, pois utiliza-se de uma linguagem descomplicada para definir e sustentar suas intenções. Obra de mestre.
5/5
Ficha técnica: Medos Privados em Lugares Públicos (Coeurs) – 2006, França. Dir.: Alain Resnais. Elenco: Sabine Azéma, Isabelle Carré, Laura Morante, Pierre Arditi, André Dussollier, Lambert Wilson, Claude Rich.
Resnas é gênio. apesar de eu preferir outros dele (top3: Hiroshima, Marienbad e Muriel, Meu Tio da América também é fodão), esse é um dos melhores do mestre.
caraca…fiquei louco pra ver…suahsua
Então veja, cara! É um dos mais interessantes dessa ‘segunda etapa’ da carreira dos Resnais.
paulin, maior legal é pouco /grr.
quando fui assistir no cinema, o filme foi aplaudido. maior legal 🙂
Paulo Martins com onze anos já ia ao cinema ver filmes assim.
Cada vez deixa seu irmão mais orgulhoso. =’D
Já eu, com essa idade ia assistir Pokémon.
Ah, na verdade não! Eu tinha doze quando saiu o primeiro.
nessa idade eu ia assistir Olhos Famintos. fuuuuuuuuuuuuuuuu
Paulo Martins, com onze anos já assistia filmes assim no cinema…
Paulo Martins com onze anos já assistia filmes assim no cinema…
Paulo Martins com onze anos já ia ao cinema ver filmes assim.