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Eles Vivem (John Carpenter, 1988)

– por Guilherme Bakunin

John Carpenter declarou que quando instalou em outdoors a decoração de subliminares de Eles Vivem com dizeres como “Obedeça” e “Case-se e reproduza-se”, as pessoas realmente não notaram muito, um fato que acaba sendo meio que mais assustador que o próprio filme, que não é tão assustador assim. Na verdade, apesar da premissa ideológica forte, não é um trabalho tão sério. Carpenter utiliza a invasão e imersão alienígena na terra como um palco de uma ação conspiratória eficiente, simples e bem conduzida.

John Nada é um cara recém-saído de algum lugar, que vai para São Francisco à procura de algum emprego. Com imensas dificuldades de achar algo através de uma agência, acaba indo parar no trabalho marginal da construção civil. Lá, conhece Frank, um homem simples e de caráter, que leva-o para o acampamento onde vive. É a partir desse cenário, bastante real e convencional, que Carpenter começa a dar os primeiros passos para a revolução planetária que viria a seguir.

É singelo perceber o esmero de Carpenter pelas pessoas simples. É a partir de um acampamento extremamente pobre que o planeta inteiro se salvaria da dominação extraterrestre (a qual nós não iremos perceber grandes motivações), e isso não é por acaso. A forma pela qual o segredo é revelado através de um acessório comum denota uma paixão do cineasta pelo produto às massas, pelas multidões.

Não é por menos que a partir de uma trama lenta e existencialista, engatilhe-se um filme de ação, com tiroteiros e perseguições que pouco contribuem para a carga psicológica do filme, mas que faz parte, num conjunto, de uma obra-prima que une o convencional e o original, o individual e o coletivo num único trabalho. Fazer seu filme mais social ir para o pouco elaborado, é a forma encontrada por Carpenter para se comunicar com nós, pessoas simples, comuns, meros trabalhadores, tão, humanos e tão frágeis.

Eles Vivem é um filme clássico, meio glorificado hoje em dia por ser bem divertido, bem sintético e bem filmado, mas que é, antes de qualquer coisa, uma maneira de glorificar o homem de verdade, puro e modesto. Não que o diretor faça um filme simplesmente burro, idiota, nem mesmo um filme raso. É simplesmente um traçado existencialista e individual claro, e um enredo imaculado de ETs, armas e batalhas. A adição desses dois elementos é o que dá o resultado que, aparentemente, visionava Carpenter: colocar acima de tudo e de todos, no topo do mundo, um cidadão singelo, voltar o olhar para ele e exaltá-lo, como salvador, como algo que dá continuidade, não apenas durante invasões de marcianos, mas a cada momento.

5/5

Ficha Técnica: Eles Vivem (They Live) – 1988, EUA. Dir: John Carpenter. Elenco: Roddy Piper, Keith David, Meg Foster.

13 comentários em “Eles Vivem (John Carpenter, 1988)

    1. concordo muito, principalmente até a parte do ‘chute no saco’. negócio é que eu tentei ver o filme por outro lado, porque ‘dar um chute no saco dos eua’ não é válido como um comentário, segundo o chefão ):

  1. fato, Kevin.

    uma explicação do próprio Carpenter:

    “Eu quis falar sobre um monte de coisas que estavam acontecendo no país naquele momento. Havia essa tendência ao capitalismo selvagem que era um estupidez total. Todos os problemas que eu achava que tinham sido resolvidos estavam de volta: censura, racismo. Mas eu não quis pregar. Então eu peguei um conto e o adaptei”

    enfim, perfeito do início ao fim. o cara se dá luxo de filmar duas ou três das sequências mais fodas do cinema e ainda conseguir o avará de crítica social que só serve mesmo pra cuspir na cara dos poderosos com um maluco chamado “João Ninguém” (John Nada q) mandando o dedo do meio pra elite.

    não tem final melhor!

  2. esse é o melhor Carpenter!

    descupa ser chato, mas como fã achei que a critica ficou meio que leve de mais pro significado que o filme todo tem, mas não queros er chato..ushasua

    e o filme diz muito mais, do que apenas chutes no saco dos americanos, ele diz muito sobre todos os sacos do planeta, genial!

  3. é o capitalismo dos novos yankees, digo, os yuppies e a população descerebrada e toda a bosta da hipocrisia sendo massacrada ensse filme, com uma cena de luta q deveria durar 10seg e q vai indo , indo, indo…simplesmente d+..fodasso ao cubo

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