– por Guilherme Bakunin
Dói chamar o clássico do Woody Allen de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, mas deixando de lado essas sandices dos responsáveis pelo título brasileiro, é muito difícil esboçar algum comentário que traga uma visão nova do filme, mas mesmo em vão, a gente pode tentar. Alvy Singer é um comediante relativamente famoso de Nova York que recentemente rompeu o NAMORO (onde os tradutores brasileiros viram um noivado na relação dos dois, eu nunca vou saber) com Annie, aquela que ele acredita ser, talvez o grande amor de sua vida.
A estrutura de Annie Hall é fantástica. O filme não possui nenhuma ordem cronológica. Na verdade, é uma história passional, contada diretamente ao espectador por Alvy, onde ele simplesmente narra momentos aparentemente aleatórios, mas significativos, que num conjunto, formam a tese para o argumento final do filme (mesmo sem spoilers, dá pra falar: nós precisamos dos ovos). Até aqui, foram duas transgressões de Woody Allen: cenas desconexas cronologicamente sem o apoio de um narrador e a quebra da quarta ‘dimensão’ no cinema (a saber, o filme não dialoga com quem o assiste).
A narrativa de Alvy Singer busca uma resposta para a angústia vivida pelo personagem. Ele e Annie se amavam, eram felizes e formavam um casal inicialmente irretocável. Por que, então, eles terminaram? Repensando seus momentos, Allen põe em evidência a fragilidade nas relações entre as pessoas. Somos ligados uns aos outros por nós frouxos, que desatam com a simples turbulência. Somos “tubarões nadando até a morte”. Annie e Alvy terminam devido pequenas diferenças, que se acumulam e arrebentam a conexão existente entre eles. Mas se os relacionamentos são tão frágeis, como fazê-los durar? Em cenas duras, Allen -parece- defender a ideia de que a própria ignorância e superficialidade das pessoas são responsáveis pela manutenção de uma vida menos conturbada nesse aspecto. Ao ‘entrevistar’ um casal feliz no meio da rua, Alvy pergunta qual o segredo da felicidade de ambos, no que eles respondem “Eu sou vazia e superficial e não tenho nada de interessante a dizer”, “E eu sou a mesma coisa”. Essa é, por definição, uma forma de enxergar o filme.
Mas é claro que podemos arriscar de culpar as grandes neuroses de Alvy Singer e a grande relutância de Annie Hall como os fatores responsáveis pela queda do casal. Duas pessoas que estavam juntas e sentiam a necessidade de permanecerem assim, mostram-se idioticamente incapazes de concessões e agarram-se a seus próprios mundos, sem darem espaço ao outro para adentar neles. Talvez, esse seja um comportamento visto com crítica pelos olhos do Allen roteirista ou talvez esse seja um dos objetos de estudo na psicologia do filme, mas o certo mesmo é que existem outros casais em Nova York. Pessoas passeiam pelas ruas da cidade cinzenta o dia todo, os amigos de Annie e Alvy estão juntos e céus, há casais aparentemente felizes até mesmo em Los Angeles, CA. Talvez, o certo mesmo é que não haja segredo, e que a fórmula para uma vida feliz seja relativa, individual e subjetiva.
Annie Hall foi surpreendente e merecidamente premiado com quatro Oscars em 1978, dentre eles os de melhor direção e roteiro. Foi um ano em que o Academy Awards demonstrou enorme bom gosto e coragem, ao premiar um filme verdadeiramente transgressor, autoral, carregado não apenas com uma experiência pessoal-sensorial arrebatadora (pra mim, o filme é perigosamente identificável) mas também com mensagens (sim!) fortes e fracas, escrachadas e ocultas, que fazem do filme ser tão apreciado por qualquer tipo de pessoa, esteja ela ciente das pequenas revoluções ali retratadas ou não. Roteiro genial, submerso em diálogos rápidos e referências incontáveis, dono de um grande começo (“Annie e eu terminamos e eu ainda não consegui tirar isso da minha cabeça”) e de um grande final (“Nós precisamos dos ovos”), Annie Hall é pra mim, irredutivelmente um dos dez grandes filmes que eu já assisti.
5/5
Ficha Técnica: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall) – 1977, EUA. Dir: Woody Allen. Elenco: Woody Allen, Diane Keaton, Tony Roberts, Carol Kane, Christopher Walken, Janet Margolin, Helen Ludlam.
27 de agosto de 2009 at 13:06
por muito tempo foi meu filme preferido. hoje tá empatado com outros do Woody Allen (a saber, Memórias, Hannah e Suas Irmãs e Manhattan) e Short Cuts.
belíssimo texto, guilherme!
27 de agosto de 2009 at 13:19
Apenas pra deixar o comentario..Esse filme que vc citou não foi o primeiro,e sim ALFIE que foi filmado na inglaterra em 1966.
Mas enfim,boa resenha.Bem sedutora,parabéns!
27 de agosto de 2009 at 13:21
E qual é o nome do filme que vcs usaram no banner do CC?
Nossa,esse filme é foda demais,eu só não sei o nome dele!
D:
27 de agosto de 2009 at 14:10
Guilherme, o filme é O Iluminado, do Stanley Kubrick.
27 de agosto de 2009 at 16:46
meu texto e um sucesso!!!1!
27 de agosto de 2009 at 21:02
Antes de saber quem era Woody Allen e eu achava que esse filme era sobre casamento, dessas que a noiva foge com o amante e deixa o noivo neurótico no altar riairairaira. Não riam 😦
27 de agosto de 2009 at 21:13
ahueaheuahu, a culpa é do título, to falando.
9 de novembro de 2009 at 19:21
[…] Isso porque o nome do filme, no Brasil, está ERRADO (e parecem que fazem de propósito, para avacalhar com o diretor). Sim, ERRADO. Não é como se EU ACHASSE que não é legal ou coisa sim, não é como se isso […]
20 de novembro de 2009 at 17:40
[…] uma comédia romântica, o filme se destaca e muito. A premissa nos remete à Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, já que a história dos dois é contada através de flashes. O interessante nesse filme, sendo […]
28 de dezembro de 2009 at 17:55
Ai, ai. Pobres críticos de privada que surgem pela internet. Não me dei ao trabalho de ler por inteiro seu texto, mas o pouco que li fez meu cérebro sangrar. Eis a lição do dia: quando houver nada a fazer em casa, nunca, em hipótese qualquer, pense em ler crianças intrometendo-se na crítica cinematográfica.
28 de dezembro de 2009 at 20:11
Quando o tio resolver expor motivos ao invés de ficar sangrando pelo cérebro a gente conversa, sacou.
28 de dezembro de 2009 at 21:53
Refratario, mil vezes ler a crítica de uma “criança intrometendo-se na crítica cinematográfica”, do que ler qualquer coisa escrita por um metido intelectual arrogante e de nariz empinado.
trocando em miúdos e sendo proletário: vai tomar no redondinho.
28 de dezembro de 2009 at 21:56
Eu não aceito críticas de quem não sabe usar vírgulas nos textos.
Um beijo.
28 de dezembro de 2009 at 22:16
Falsos profetas! Falsos moralistas!
28 de dezembro de 2009 at 22:27
Vocês não estão entendendo nada! Vocês não estão entendendo nada! É proibido proibir!
28 de dezembro de 2009 at 23:00
até em blogs tranquilos aparecem filisteus dormesujos?
deuses!